domingo, 10 de abril de 2016

Personagem do mês de Abril: Therese Belivet, 'Carol'


O Rooney Mara Brasil estreia hoje a coluna intitulada "Personagem do mês", com textos mensais homenageando as diferentes personalidades que ganham vida nas telas através de Rooney. E para inaugurar a categoria, nada mais justo que trazer ela, Therese Belivet, a apaixonante protagonista de "Carol".

Therese trabalha como vendedora numa loja de departamentos. Jovem e em busca da própria identidade, Therese tem amigos e um namorado, mas se sente perdida, insatisfeita, incompreendida. De poucas palavras, é unicamente através do seu olhar que testemunhamos a emersão de sentimentos que nem ela sabe dar nome. A inflexão de sua voz, o comedimento de seus gestos, tudo revela o quão alheia Therese se sente em seu próprio espaço. Seu único escape é a fotografia, e ter uma máquina fotográfica em mãos significa ter uma oportunidade de se expressar, de processar o mundo que ela aprendeu a assistir do canto, em silêncio.

Carol: Que garota estranha você é.
Therese: Porque?
Carol: Caída do espaço.

Quando conhece Carol, o fascínio por aquela mulher sofisticada e segura de si é imediato. Carol, com toda a sua aura de feminilidade e experiência, é o contraponto perfeito para o desconhecimento de Therese. Ainda que a atração que Carol lhe exerce seja tida inicialmente como admiração, já que a ideia de duas mulheres se amarem parecia simplesmente incabível para Therese, a jovem aspirante a fotógrafa logo se vê num caso proibido com uma mulher mais velha. Vale lembrar que estamos na década de 50, e se ainda hoje há pessoas que olham torto para o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, imagine naquele época, em que a mera palavra "homossexualidade" nem fazia parte do vocabulário comum.


Carol lhe traz ousadia, felicidade, altivez, libido. É sua amante e mentora, ao mesmo tempo em que Therese também representa uma luz de esperança para sua parceira, já que por trás dos looks impecáveis e dos gestos calculados, Carol é uma mulher emocionalmente debilitada. A relação das duas possui essa dinâmica de compensação. É interessante notar, por exemplo, a risada que Carol arranca de Therese ao sacudir seu embrulho de presente, tentando adivinhar o que tem dentro; um gesto simples, mas que revela a economia de gestos com a qual Therese demonstra suas emoções.

Therese: Eu quero saber, eu acho... Quer dizer, eu quero perguntar coisas sobre você, mas... Mas não sei se você quer.
Carol: Me pergunte. Coisas. Por favor.

À medida que o relacionamento com Carol se desenvolve, as roupas, penteados, maneirismos, tudo muda em Therese, reflexo da maturidade e segurança que o amor por aquela mulher mais velha lhe trouxe. Therese agora também é uma mulher e sabe impor sua vontade, e mais do que uma intensa história de amor, o relacionamento com Carol proporcionou a Therese uma jornada de auto-conhecimento.

Imagens: Reprodução / Universal Pictures

4 comentários:

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