terça-feira, 19 de abril de 2016

[22/02/2016] Rooney Mara sobre 'Carol', o retorno de Lisbeth Salander, whitewashing em Hollywood & mais - Deadline


"Rooney Mara sobre 'Carol', o retorno de Lisbeth Salander, whitewashing em Hollywood & mais"

Por: Anthony D'Alessandro
Veículo: Deadline
Fotos: Drew Wiedemann

22 de fevereiro de 2016

Quatro anos atrás, Rooney Mara se viu no Oscar, indicada por sua épica metamorfose na hacker punk niilista Lisbeth Salander, no filme da Sony “Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres”. Neste domingo, a atriz retorna ao Dolby Theater, desta vez sendo reconhecida por sua interpretação de Therese Belivet, uma jovem atendente de uma loja de departamentos que se torna o objeto de afeto de uma mulher de meia-idade em “Carol”, a adaptação para o cinema do romance lésbico de 1952 escrito por Patricia Highsmith, “O Preço do Sal”.

Em “Carol”, Mara continua a revelar a sua finesse para acessar outras atmosferas. Se Lisbeth era uma pessoa extrovertidamente notória, Therese é uma introvertida absoluta: cheia de nuances, equilibrada e tranquila em suas emoções. Essa persona nas mãos da atriz errada pode resultar numa grande quantidade de tensão ou de falta de sinceridade. Na verdade, Mara recusou ​​Therese inicialmente, assim que terminou “Millennium”. "Eu estava exausta e senti que não poderia atuar. Eu não acho que eu poderia ter me saído bem. Eu senti que dei tanto de mim em 'Millennium' que não poderia oferecer mais nada", disse-nos em Cannes. No entanto, uma vez que o diretor Todd Haynes embarcou em “Carol” ao lado de Cate Blanchett, Mara não poderia recusar.

Na superfície, Therese se revela uma inocente jovem impressionável, tentando preencher um vazio em sua vida enquanto está pendurada em um purgatório de indecisão entre meninos e seu desejo de se tornar um fotógrafa. Quando a dama de classe média alta cheia de determinação, Carol Aird – uma mulher confiante em sua identidade lésbica numa época intolerante – entra na vida de Therese, ficamos imaginando se a jovem é verdadeiramente ingênua. Mara interpreta essa intriga dramática sem esforço.

Daqui para frente, Mara continua a criar um arsenal de heroínas para as telas grandes: ela está em negociação para interpretar a mais controversa mulher do Novo Testamento, Maria Madalena, o que significa trabalhar novamente com o diretor Garth Davis. E quanto a reprisar seu papel como Salander na adaptação da Sony de “A Garota na Teia de Aranha”, não pensem que ela está fora.

Tendo interpretado uma personagem tão icônica como Lisbeth Salander, você acha que, quando se trata de escolher seu próximo papel, você está sempre em busca de um dragão? Que você está sempre tentando encontrar o próximo grande ícone?

Se eu estava tentando ficar em alta novamente? Acho que eu estava. Bem, acho que depois que eu terminei eu meio que percebi que a maioria das coisas não sobrevive a essa experiência, e mesmo que fizéssemos mais, nunca seria igual. Foi uma experiência singular tão única que nunca seria capaz de ser replicada, e eu tenho tanta sorte de ser parte disso. Vai ser sempre parte de mim e eu sempre vou levar isso. Serei sempre capaz de olhar para trás para perceber isso, mas eu nunca serei capaz de reproduzi-la. Jamais.

Qual é a situação de seu papel como Lisbeth no próximo filme de 'Millennium' da Sony?

Eu acho que a intenção deles é retomar. Eles acabaram de contratar Steve Knight para adaptar o quarto livro ('A Garota na Teia de Aranha'). Isso é tudo que sei sobre os planos deles. Até onde sei, o papel é meu e eu vou interpretá-la até que alguém me diga o contrário.

Você já leu o quarto romance?

Eu o tenho, mas não o li ainda, porque eu não quero lê-lo até que eu saiba que estarei nele.

Você traz tanta intensidade para os seus papéis, que eu penso que você deve ficar exausta depois de cada filme que termina. Ou 'Os Homens Que Não Amavam as Mulheres' exigiu três vezes mais emoção?

Oh, bem mais do que isso. Filmamos “Carol” em dois meses. Filmamos “Os Homens Que Não Amavam as Mulheres” durante um ano.

Qual a cena de 'Carol' que mais te marcou?

Há duas cenas. Ambas com Cate. A primeira é quando Carol e Therese vão almoçar juntas pela primeira vez. Essa foi a primeira cena que tivemos que fazer juntas, onde realmente houve um toma-lá-dá-cá. Tivemos todo o dia para filmar, o que foi um luxo devido ao nosso cronograma, e nós fizemos a cena em sua totalidade. Alguém [no set] observou: "Isso foi como jogar tênis com alguém realmente bom". Sim, é como jogar tênis com o melhor jogador de tênis. Era como estar num jogo. A segunda cena é a que fecha o filme, quando estamos tomando chá. Essa foi outra cena que tivemos que fazer tomadas longas. Havia tanta sutileza e nuance acontecendo.

Patricia Highsmith baseou o romance numa cliente que ela observava durante seu emprego como funcionária de uma loja de departamento. O seu desempenho foi inspirado pela autora falecida?

Não foi, mas é engraçado, porém, porque [a roteirista] Phyllis Nagy contou-me que estava me observando durante a primeira semana no set e comentou comigo que eu tinha a mesma cadência da Patricia, bem como os seus movimentos e a sua essência. Como preparação para a dialética, escutei algumas entrevistas com Highsmith, mas eu não estava tentando imitar sua voz. Eu só estava tentando encontrar mulheres daquele período para ouvir, e ela passou a ser uma delas.

No final, Therese e Carol seguem caminhos opostos. É como se Carol aceitasse o fato de que Teresa está desfrutando sua juventude. Qual a sua opinião sobre o final?

Eu acho que ele é aberto para interpretações. Uma das grandes coisas sobre o filme é permitir que as pessoas projetem o que quiserem sobre ele e imbuam sua própria experiência e referências pessoais. Eu realmente não sei o que o futuro reserva para essas duas personagens. Eu acho que talvez haja esperança para elas, mas o amor e os relacionamentos são realmente difíceis e elas têm um monte de fatores contra elas, além do fato de serem duas mulheres. Quer dizer, há muitas coisas capazes de mantê-las separadas. Para mim, o final não é um final feliz. É mais esperançoso. Eu acho que há esperança de que elas poderiam ter tido um relacionamento.

Você trabalhou com um bom número de diretores de primeira viagem que fazem cinema independente. O que a permite confiar neles?

Para mim, os diretores são tudo. Eu amo diretores. Eu adoro eles. É por isso que eu amo o que faço e por isso que, para mim, é o fator mais importante em qualquer decisão que faço. Com “Amor Fora da Lei”, eu li o roteiro e adorei tanto que disse 'Eu quero conhecer o cara que escreveu isso, e quem vai dirigi-lo?', e eu senti instantaneamente uma conexão com David Lowery e soube que queria fazer parte disso só de me sentar com ele. Eu não sei o que é isso. Eu acho que é apenas intuição.

Eu também trabalhei recentemente com Garth Davis (em Lion). Ele não é um diretor de primeira viagem, mas esse foi seu primeiro longa-metragem. Ele co-dirigiu “Top of the Lake” com Jane Campion, que era uma espécie de situação similar. Eu li o roteiro e o papel era bem pequeno, mas achei que o roteiro era tão poderoso, comovente e bonito que eu fiquei tipo ‘Eu sei que essa deveria ser a minha folga, mas eu quero falar com esse cara'. E depois de falar com ele por dois minutos, eu soube que iria trabalhar com ele. E então eu trabalhei com Benedict Andrews no verão passado, que é um diretor de teatro, mas cujo primeiro longa-metragem foi “Una”. Eu fui ver uma de suas peças e me encontrei com ele, e, você sabe, tudo que você pode fazer é seguir seu instinto numa situação como essa.

Foi relatado que você foi considerada para 'Rogue One: Uma História Star Wars'.

Eu não fiz o teste. Eu me encontrei com o diretor (Gareth Edwards) e eu realmente gostei dele, mas acabei não fazendo o teste. Eu estava trabalhando e não era a coisa certa para mim, então decidi não tentar. Eu estava em um filme. Eu estava trabalhando seis dias por semana e não seria possível.

Você nunca sentiu a tentação de fazer parte de uma franquia para jovens adultos ou um filme de quadrinhos?

Nunca me ofereceram papeis, ou talvez já me ofereceram. Eu não sei mesmo. Talvez eu tenha recusado sem nem perceber, apenas dizendo "não" a eles. Para mim, trata-se do diretor, do roteiro e da história.

No que diz respeito a toda a reação sobre 'Peter Pan' que dominou o início do outono com o seu anúncio como Princesa Tigrinha – sendo direto: quando começamos a escalar atores de acordo com sua origem étnica, isso não começa a reduzir a criatividade e a arte?

Eu acho que existem dois lados para isso. Sim, eu acho que isso fere arte e a criatividade, e eu também acho que se você pensar assim, você tem que ser capaz de... você tem que ir nos dois sentidos. Não pode ser apenas o puro desejo de querer uma menina branca para interpretar determinado papel. Tem que ser de ambos os lados. E eu acho que isso pode frear a arte e a criatividade. Dito isto, há whitewashing em Hollywood? Absolutamente, e eu me sinto muito mal e muito envergonhada de ser parte disso. No livro de J. M. Barrie, os nativos não eram nativos americanos. Isso foi algo que foi atribuído mais tarde e não há, provavelmente, racismo por trás dessa atribuição. No livro, eles são chamados de Tribo Pickaninny, o que é forjado como racismo. Mas nunca foi minha intenção interpretar uma nativa americana. Isso nunca foi uma opção para mim. Era desejo do Joe (Wright) fazer dos nativos um conglomerado de diferentes culturas e povos indígenas. Para torná-los pessoas do mundo. Ele queria que eles fossem nativos do planeta Terra. Eu pensei que fosse uma inteção realmente bela da parte dele. Dito isto, eu entendo a raiva sobre o whitewashing. Entendo completamente, e concordo.

Outra questão durante a temporada de premiações foi a disparidade salarial entre as atrizes de Hollywood, como abordado por Jennifer Lawrence.

Ouça, eu acho que nós estamos tendo a conversa errada (sobre o assunto). A conversa não é sobre não estarmos recebendo tanto quanto os homens. A conversa deve ser porque e de onde isso vem, porque isso é só um efeito colateral de algo muito maior, que diz respeito às mulheres... há uma certa linguagem que usamos ou que as pessoas usam para falar sobre mulheres e sobre certos tipos de mulheres, tanto na nossa indústria quanto em tantas outras indústrias diferentes, que nunca se usaria para descrever homens. E eu acho que quando você recebe menos, há uma espécie de 'Bem, você não me respeita de verdade ou não sente que precisa de mim tanto quanto precisa de outras pessoas’.

Se você é uma mulher do tipo opinativa ou que tem um ponto de vista ou é auto-suficiente de certa forma, você é descrita com essa linguagem que nunca seria usada com homens. Quando eu fiz “Os Homens Que Não Amavam as Mulheres”, Daniel Craig recebeu mais do que eu? Claro. Ele tem sido muito mais bem pago do que eu, mas ele é Daniel Craig e ninguém sabia quem eu era, então eu não mereci receber o mesmo que ele estava recebendo. Foi ele que colocou as bundas nas cadeiras, não eu. Eu nunca tinha feito nada, então foi mais ou menos assim que aconteceu.

Eu só tive uma única experiência de receber significativamente menos do que os homens num filme de estúdio, e não havia realmente uma razão para aquilo. Essa foi a minha única experiência real com a diferença entre gêneros, mas eu já recebi mais do que os homens em filmes anteriores, e na maioria dos filmes que faço, pelo fato de serem filmes menores, todo mundo recebe igual. Todos nós recebemos o mesmo pagamento. Então essa foi a minha experiência, que é que eu geralmente recebo igualmente. Mas eu sei que esse não é o caso para um monte de gente.

Tradução e Adaptação: Igor Costa / Equipe Rooney Mara Brasil

5 comentários:

  1. Tá ai alguém de certa do que diz e faz é sincera e positiva em suas opiniões.
    Admiro cada vez mais ,com atriz e principalmente com mulher .

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  2. Tá ai alguém certa do que diz e faz, é sincera e positiva em suas opiniões.
    Admiro cada vez mais ,como atriz e principalmente como mulher.
    E lembrando que sua luta em causas sociais,deveriam ser mais divulgadas,quem sabe a gente pode ajudar de algum jeito ,eu adoraria .

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  3. :( Só não gostei de chamarem Cate de senhora de meia idade ,como assim ?!?!?!?
    Meia idade pra mim é 60 pra cima kkkk

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    1. A Rooney tem mesmo um posicionamento admirável a respeito dos "problemas" citados na entrevista. E quanto a divulgação das causas sociais, é uma excelente iniciativa. Estamos legendando vídeos (já tem um no canal, inclusive) e trabalhando numa página dedicada aos trabalhos sociais realizados pela Rooney. Claro, também estamos abertos a sugestões, então qualquer ideia é bem-vinda!
      Ah sim, quanto à "Carol de meia-idade" haha Na verdade, a meia-idade realmente começa a partir dos 40, mas você tem razão: é um tanto estranho ver a Cate/Carol sendo descrita com essas palavras, talvez porque a gente nunca pense nela dessa forma haha

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  4. Ai galera ,brigada por responder e claro obrigada pelas informações ,adorei !
    BJSSSSSSSSSSSSSSS

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