"O que Cate Blanchett e Rooney Mara acham das cenas favoritas do diretor Todd Haynes em ‘Carol’?"
Por: Gleen Whip
Veículo: Los Angeles Times
Fotos: Jay L. Clendenin / Los Angeles Times
03 de fevereiro de 2016
Fotos: Jay L. Clendenin / Los Angeles Times
03 de fevereiro de 2016
Em conversa com o The Envelope,
Todd Haynes, diretor do belo e fascinante romance "Carol", mencionou suas
três cenas favoritas compartilhadas com suas atrizes indicadas ao Oscar, Cate
Blanchett e Rooney Mara. Naturalmente, tivemos que perguntar às duas sobre
elas também. Suas reações às escolhas de Haynes – juntamente com seus próprios
comentários – fornecem um vislumbre das decisões deliberadas e dos consideráveis desafios que permearam a produção desse celebrado filme.
Cena 1: Carol leva Therese à sua casa em Nova Jersey pela primeira vez.
No romance, Patricia Highsmith escreve: "Mergulharam com um ronco no Lincoln Tunnel. Uma excitação inexplicável, incontrolável, tomou conta de Therese, enquanto ela olhava o para-brisa. Ela desejou que o túnel desmoronasse e matasse as duas, que seus corpos fossem resgatados juntos.*"
Haynes: Eu li isso e pensei: "Sim, isso é... o amor!" É o
que se passa em sua mente quando você se apaixona. Você está tão apegado nesses
momentos que qualquer coisa pode desencadear uma fantasia de suicídio ou alguma
ideia dramática de morrer com o seu amado, e só assim vocês legados juntos à
posteridade. [Risos]
Essa cena tem uma potência emocional
na história e também uma distinção estilística de qualquer outra coisa no filme,
com a sua dissolução lenta, a mistura da trilha e um estado de quase embriaguez
que evoca o que é estar apaixonado.
É também uma cena que criou verdadeiros
problemas práticos nas gravações em Cincinnati, porque o comprimento do túnel
que usamos é de cerca de 200 metros. Então tivemos que agendar o uso deste túnel
de novo e de novo. O túnel era tão curto que a luz do dia começava a aparecer
quase que imediatamente. Então, nós filmamos mais ou menos em torno das 4h da manhã,
após um dia já incrivelmente longo, utilizando uma escolta policial que levou
cerca de 45 minutos apenas para fazer um círculo e voltar de novo, para o que se
trata de, literalmente, 30 segundos de filmagens.
O trailer americano oficial da Weinstein Company do filme estrelando Cate Blanchett, "Carol".
Mara: Eles acabaram de exibir essa cena [no almoço do AFI Awards]. Ela está fresca em nossas mentes.
Blanchett: Sim, só que nós também a gravamos em vários pedaços. A
coisa toda parece um sonho para mim. Não me lembro muito dela.
Mara: Você estava dirigindo e o tempo estava congelante. Era muito
tarde da noite.
Blanchett: Sim. Ela foi gravada no final de um dia de tomadas
noturnas. Neste filme, passamos muito tempo no carro com o Todd e o [diretor de
fotografia] Ed [Lachman]. Eles pareciam os dois homens velhos d’Os "Muppets".
Sempre falando. [Risos] Mas nessa cena do túnel, eles não puderam ficar no
banco de trás e eu me senti um pouco solitária sem eles.
Mara: Foi uma das cenas que mais se destacaram para mim, quando vi o filme pela primeira vez. Ficou diferente de como eu imaginava. Essa cena,
mais do que tudo, dá a sensação de se apaixonar.
Blanchett: Em um nível prosaico, é uma jornada bastante funcional.
Mas o que Todd fez com ela, te faz atravessar um limiar. Eu não sabia que ele a
filmaria de tantos ângulos. Ele, obviamente, percebeu que as personagens estão
se movendo através de uma membrana ou algum tipo. As pessoas falam sobre química
e dizem que é uma coisa que Rooney e eu construímos, mas, nesse caso, foi tudo
graças à Todd. Trata-se da maneira com a qual a trilha se mistura. Você ouve a
pessoa falando, mas é totalmente irrelevante.
Mara: Que é exatamente o que acontece quando você está se
apaixonando. Você sente que tudo o que a outra pessoa está fazendo é mágico.
Eles não fazem nada de errado.
Cena 2: Pouco depois de serem descobertas por um investigador
particular contratado pelo marido de Carol, Therese e Carol voltam ao Drake
Hotel. Para Therese, parece que tudo entre elas está arruinado. Carol chama Therese
para a sua cama, onde eles se abraçam, mas há algo de trágico na maneira com a
qual fazem amor. Nós então descobrimos que, na manhã seguinte, Carol partiu.
Haynes: Na produção, foi a primeira vez que elas se beijaram.
Filmamos antes da cena do sexo. E ambas as atrizes vão evidenciar o fato de que
eu demorei um longo tempo para dizer "Corta!” [Risos]. E elas continuaram.
E eu fiquei meio que fascinado assistindo-as. Foi a primeira vez que Cate e
Rooney se agarraram na minha frente. E eu não conseguia dizer "Corta!".
Eu não queria deixá-las numa situação desconfortável. Acho que, em última
analise, acabei deixando.
Blanchett: Nós apenas gritamos: "Isso é o suficiente? Podemos
ir agora?"
Mara: Pervertido! [Risos] Foi uma das primeiras cenas que filmamos
juntas. Nós não nos conhecíamos muito bem. Foi a nossa primeira interação real.
Não foi difícil, mas foi meio constrangedor, porque tivemos que nos agarrar e ficamos
rindo, e ele não gritava “Corta!”, porque, penso, tudo aquilo ainda era novo e
excitante.
Blanchett: Havia algo de voyeurista naquilo, mas de uma maneira
bonita. Eu imagino que, na primeira vez em que um diretor põe seus atores
juntos, ele está apenas vendo o que acontece. É igual ao seu irmão espreitando
pela porta, vendo você se despir. É mais ou menos: "Eu sei que você está aí!"
Haynes: O que as duas atrizes estavam fazendo na cena, por ela ter
uma dimensão tão trágica, era tão comovente para mim que eu tive dificuldade para finalizar. Aquela cena me mata cada vez que a vejo. Há uma expressão de dor no
rosto de Rooney onde você consegue ver o peso da implicação em relação à
situação da vida de ambas.
Blanchett: Lembro-me do diálogo que precedeu o ato sexual, e Todd
queria estender aquilo ao momento em que elas são expostas. Lembro-me de
perguntar: "Nós precisamos disso? Tem certeza?" Essa é a reticência
de um ator. Todd é tão musical. Ele sabia que precisava daquele contraponto, daquele desafogo. E ele estava absolutamente certo.
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A cena entre Therese (Rooney Mara, esquerda) e Carol (Cate Blanchett) que encerra o filme é uma das favoritas do diretor Todd Haynes (Weinstein Co.). |
Finalmente, a cena que encerra o filme: o encontro de Carol e Therese no Ritz. Quando ela aparece na abertura do filme, nós não entendemos o significado do final abrupto da conversa delas, embora saibamos que, pela forma que Carol toca o ombro de Therese enquanto sai, há algo entre aquelas mulheres. Quando o filme retorna à cena no final, vemos que Carol agora é a vulnerável, pedindo para Therese uma segunda chance.
Haynes: Esta cena giratória e o pivô que ela desempenha na história – embora eu pense em "Carol", esse giro no status da relação dá uma
nova dimensão à cena que a originou – que vem do filme “Desencanto” [N/T: “Brief
Encounter”, 1945]. Esse filme abre com uma sucessão de pequenos momentos em que
você fica se perguntando que história é aquela, quando é que vamos encontrar o
ritmo e seguir a rota. Eu amo aquilo. Toda a questão de que história é aquela e
que emoções elas envolvem são, na minha mente, definitivas para uma história de
amor.
Blanchett: "Desencanto" é um dos meus filmes favoritos,
que eu constantemente revejo. As performances são tão extraordinárias. Nunca
vou esquecer o momento em que eles estão prestes a consumar o relacionamento e então
têm que fugir da cozinha para a escada de incêndio, e de repente o que era tão
bonito se transforma em sórdido e sujo. É quando o mundo polui o que parecia
tão puro e perfeito. É muito difícil manter o romance vivo no mundo moderno.
Mara: O que é impressionante é como os papéis se inverteram quando se volta à essa cena em "Carol".
Blanchett: Eu ainda acho surpreendente quando Carol pergunta:
"Então, você gostaria de morar comigo?" e Therese diz: "Não, acho que não". Você fica, "Okaaay. Eu acho que é isso, então. Não
há muito espaço para se negociar."
Mara: Ela é apenas direta. Eu amo isso nela. Provavelmente porque sou
muito mais indecisa.
Blanchett: Eu não sei. Talvez, quando se trata de amor, um pouco de
cautela não seja uma coisa assim tão ruim.
*Trecho retirado da edição brasileira de "Carol", traduzida por Roberto Grey e publicada pela L&PM Editores.
Tradução e Adaptação: Igor Costa / Equipe Rooney Mara Brasil
A cena mais comentada de fato se tem a nítida sensação de que algo estava sem controle ,mas que de fato por isso mesmo ficou tão bela "Amor é Amor" ainda que alguns não entendam >> A matéria ficou ótima,obrigada valeu !
ResponderExcluirCleo,
ExcluirRealmente, "Carol" é um filme tão cheio de nuances, que é justamente o que faz dele a obra magnífica que ele é.
Muito obrigado mesmo, abração!